Quando vais além do medo e te permites falhar e acabas não falhando, pode ser que seja apenas Vida a manifestar a sua Abundância e Generosidade.

Esta estória começa em meados de outubro de 2017 com um inesperado desafio da Isabel Guimarães: Queres vir comigo fazer o exame de competências astrológicas da ISAR? Queres vir a Belgrado? E ainda acrescentou temos um mês e pouco para nos prepararmos.

Foi como se tivesse passado por um choque térmico profundo…primeiro uma onda quente e agradável a dizer sim, seguida por uma gélida onda de medo que berrava: e se falho??!

Ainda atordoada pelo efeito do choque, acabei por dizer sim, vamos! Devo dizer que a alternância “térmica” que este desafio me provocou, embora com dias em que foi menos intensa durou até à véspera do exame.

Embora me tenha habituado a leituras e audições de Astrologia na língua inglesa, a verdade é que assustava bastante, para não dizer muito, ter que traduzir todo esse conhecimento para inglês escrito. Quem é eterno estudante de Astrologia sabe que se trata duma linguagem bem complexa e cujas fronteiras vão muito além da nossa dimensão humana, e enfrentar um exame que avalia o quanto já percorremos esse caminho já era aterrador, mas acrescentando a questão da língua inglesa, ao contrário da música que diz “a língua inglesa fica sempre bem; E nunca atraiçoa ninguém”, foi absolutamente intimidante.

Nesta estória, como tantas vezes na vida, a cada dia, havia que olhar o medo de falhar nos olhos e dizer: se falhares, nada de mal te acontecerá…será apenas um desafio que fica por vencer, nada mais!

E assim foi! Depois de horas e horas e horas, e ainda mais algumas horas, todas as que os deveres quotidiano permitiam, a rever temas já conhecidos, e apaixonar-me por outros que não conhecia, a trocar dicas e perguntas com a Isabel, com quem interiormente me zanguei tantas vezes pela “descaradeza” de me tirar da zona de conforto, lá fomos nós num avião até Belgrado.

Mal chegadas lá e aqueles pequenos milagres a que normalmente chamamos estranhas coincidências foram-se sucedendo.

Um dos que mais gosto, foi o de termos encontrado o nosso apartamento, aprovado com entusiasmo pelas duas no site do Airbnb, sem a menor noção sobre a geografia de Belgrado mesmo em frente do Keppler Institut (onde se realizaria o exame), mesmo antes de termos conhecimento da morada do mesmo. Mas não referir o lindo sol, depois de longos dias de chuva e céu cinzento, com que Belgrado nos recebeu à chegada, permitindo-nos assim um belo passeio e cobrindo de neve a noite, o que nos deixou tão encantadas que até pareceria que estávamos de férias.

Lá chegou o momento de passar pelas seis horas de exame, que deixaram os nossos neurónios bem cansadinhos mas felizes porque depois de entregue o trabalho, havia que aproveitar e esperar. Não foi nada difícil desfrutar do tempo restante em Belgrado. Entre o passeio pelas ruas, a visita ao museu Nikola Tesla e o tempo passado com os nossos calorosos e inspiradores anfitriães, passou-se um instante e estávamos de volta a casa.

Se durante aqueles dias, depois do exame feito, o “choque térmico” tinha passado, durante o tempo de espera pelos resultados foi decorrendo entre a distração e a ocupação de volta à rotina, normalidade interrompida de vez quando em vez, por uma onda gélida: e se falhei? E sempre que acontecia voltava a olhar o medo nos olhos e dizia: que importa? Tentei! (nota: não era bem essa a palavra que usava, mas nem sempre o discurso interno duma mulher tripeira é passível de ser publicado).

Na verdade, com a passagem do tempo e a proximidade da época natalícia, estes efeitos foram desmaiando e foi muito pontualmente voltava a ter que olhar nos olhos do medo para lhe lembrar quem detinha a autoridade no assunto: Eu! Não ele, eu!!

Por vezes, nas minhas consultas, ouço as pessoas trazerem como crença a ideia que precisam livrar-se dos medos. Reconheço que parece tão confortável a ideia de poder caminhar sem medo, que preciso fazer algum esforço para resistir à proposta.
Imaginar que se pode viver sem medo, pode até parecer espiritualmente evoluído (seja lá o que isso seja) mas é absolutamente indesejável, senão impossível.

O medo é tão primordial e tão essencial à sobrevivência que quanto mais o tentamos ignorar mas alto ele tem que berrar para nos proteger.

Se em vez de fugir ou tentar ignorar, o olharmos nos olhos e o escutarmos, é tão mais fácil que parece mentira! Primeira grande vantagem: fica tudo mais sereno, porque em vez de gritos apenas precisamos ouvir palavras de aviso. Segunda grande vantagem: é mais fácil dominar o que nos permitimos encarar de frente, porque tudo que se move fora da nossa visão se torna mais obscuro.

Voltando á estória do desafio do exame, quando já os surtos de medos se iam tornando cada vez mais espaçados e menos intensos, quando a distração se estava a instalar por completo, chegou a notícia que serenou definitivamente o medo e instalou a alegria: o desafio estava superado e o esperado certificado estava a caminho.

Nos primeiros dias, a vontade de ter nas mãos a garantia, que todo este percurso tinha sido real, que o medo tinha cumprido o seu papel, ou seja, garantir que dentro do que me era possível tudo fazer para vencer o desafio, era imensa, mas também ela foi ficando cada vez mais ténue como uma luzinha de presença que quase esquecemos.

E eis que chegado o mês de abril ao dia 13, a materialização deste sonho, na forma duma linda página em formato A4, com o selo ISAR está nas minhas mãos e o medo, responsável pelo desempenho se entrega satisfeito à Alegria e Gratidão!

Termino com um agradecimento imenso à Vida pelas lições constantes, à Isabel Guimarães por ser na minha vida, esta inquietação constante que me tira o tapete dos pés e ao medo por me ter levado mais além!